terça-feira, 28 de dezembro de 2010

BARULHOS


Ter um filho com necessidades especiais me faz questionar um monte de coisas. Em um minuto estou perfeitamente confortável em dizer “esqueça o que os outros pensam” e logo depois... Estou preocupada com o que os outros pensam.
Essa coisa de Autismo faz com que a gente se sinta nu. Metaforicamente. Continuem vestidos pessoal!
Vejam bem, antes dessa criança, eu costumava criar expectativas acerca dos comportamentos.
Como uma criança deveria agir em restaurantes, quietos e sentados ou como uma criança deveria agir, falar, numa recepção de consultório médico ou uma livraria. No topo dessas expectativas estava a crença de que o comportamento de uma criança era reflexo de como seus pais a estavam educando.
Então eu tive meu filho, que o comportamento nem é o pior, mas os problemas sensoriais que ele carrega, fazem com que ele não tolere certos locais ou cheiros e as vezes chora bem alto ou faz barulhos para compensar, olha que eu não estou falando aqui de problemas em hotéis 5 estrelas não, é dos lugares mais simples mais corriqueiros que me encontro nessa condição.
A primeira preocupação é com o barulho, se vai incomodar as pessoas que estão conosco ou se vão incomodar as pessoas ao redor. O que essas pessoas vão pensar de mim como mãe se eu não tentar ou conseguir alcamá-lo? O que elas pensarão do meu filho que está fazendo barulhos estranhos? Vão pensar que ele é perturbado mentalmente? Como ele será aceito na comunidade em que vive?
Viram como barulhos de repente se tornam um problemão que poderá afetar sua vida? Sim, sou uma mãe com necessidades especiais. E sou boa nisso!
Pode parar mamãe, pare por aqui!
Essa é uma visão pessimista do seu filho. Você me escutou, é pessimismo! E tem três Pês: Pessoal, Permanente e Perseverante.
Então porque toda essa preocupação com barulhos? Era eu e meu problema. Eu tinha que me desafiar a mudar isso, aceitar que está tudo bem para meu filho fazer barulhos.
Porque NÃO é um problema de comportamento e não é um problema de educação doméstica! E tenho uma coisa a dizer: Não estou mais dando a mínima para o que estão pensando de mim como mãe, mas me IMPORTO realmente do que pensam do meu filho, isto porque ele está AUTISTA, e me preocupo em como ele será aceito e realmente quero que ele seja aceito.
Os barulhos são um mecanismo de defesa sensorial para compensar os ruídos externos que incomodam, ele usa sua voz para bloquear esses ataques sensoriais, ou ele chuta a cadeira da frente na Igreja porque está ansioso, sim ele faz essas coisas que você pode não entender.
Mas esse é um problema seu, certo?
Nesses dias acho muito estranho esse comportamento “normal” das pessoas que não conversam mais. Hoje as pessoas estão estabelecendo padrões de comportamento e estão se brutalizando, ao entrar no elevador, ninguém se olha, nem sequer dão Bom-dia... É esse o padrão atual de comportamento? É errado crianças quererem conversar com seus pais nos consultórios? Ou todos tem que ficar quietinhos?
As pessoas reagem de formas diferentes, em locais diferentes, com pessoas diferentes. Reagem diferentemente à ansiedade. Eu, vou te chamar para conversar... Angustiante não? Estou na minha pequena missão de mater o mundo interagindo. Comigo. Com meu filho.
Então tenho que dizer para as pessoas que acordem antes que fiquemos todos atônitos e sem reação ao mundo, às pequenas coisas que acontecem e que não são mais perceptíveis, mas que para os AUTISTAS, até o raio de sol entrando pela janela, ou fazendo refletir o pó dentro do carro é algo belo e merece ser observado!
Então vou continuar me questionado, vou continuar fazendo as mesmas perguntas e outras. As preocupações sobre meu filho estar fazendo barulhos não são sobre meu filho, mas sobre MIM e minhas percepções... Então, porque não posso aceitar o julgamento das outras pessoas? Será que posso ser tão tolerante com essas pessoas como sou com meu filho? Será que posso ver através do ponto de vista deles? Se não posso entender, será que posso pelo menos não julgá-los?
...Oh vejam! Digadigadiga!!!!! Não entenderam? Até Breve...

4 comentários:

  1. Excelente esse post. Alias, o blog como um todo. Você escreve muito bem. Realmente, esse exercício de tolerância é fundamental para a sociedade. E o primeiro passo é a autocrítica. Ahh....o Marcelo está a cara do Zé...

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  2. Ivna, estes "julgamentos" não são apenas pro Marcelo, mas para todos nós e todas nossas atitudes. Parece que estamos sempre numa espécie de BBB, onde todos nos analisam, nos julgam, sem ao menos nos dar a chance de nos explicarmos. Por isso, cada vez mais, dou menos ouvido a estas coisas, mas sempre procuro educar meus filhos para que sejam pessoas boas. Isso é o que importa. O resto não. Fiquem com Deus e um 2011 de muitas vitórias e saúde! Bjos

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  3. Lindo, seu Marcelo!!
    Seu filho tem muita sorte de ter uma mãe tão dedicada, querida!!!
    Estou te segundo.
    Bjs!!

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