quarta-feira, 11 de maio de 2011

A C E I T A Ç Ã O


Inclusão, bullying... Acessibilidade, palavras da moda. Concordam?? Falar sobre esses assuntos dá tese de doutorado.
O que tenho a falar hoje é sobre a reflexão simples de como é ser mãe de um autista. Sim, meu filho de três anos é Autista, e já tive dificuldade em me expressar assim abertamente porque no início somos atingidos por um turbilhão de sentimentos quando de um dia para o outro você se dá conta que seu filho é diferente, que algo no desenvolvimento dele o difere das outras crianças.
Diferente do que a maioria das pessoas pensa o Autismo hoje é bem mais comum do que antigamente, se manifesta em diferentes níveis e tem índices estatísticos cada vez maiores. Não tenho a pretensão aqui de explanar sobre o diagnóstico, características da síndrome, mesmo achando que nossa sociedade precisa de mais informação a respeito do Autismo e se um dia tiver oportunidade, vocês podem ter a certeza que aproveitarei, até porque muitas mães que lidam com a síndrome acabam acumulando conhecimento e faço parte desse time de mães “antenadas”.
Quando chega o diagnóstico, logo vem o luto, uma fase bem conhecida das mães de crianças Autistas, algumas passam mais rapidamente, outras demoram mais a aceitar, outras correm vão à luta e deixam o luto como um sentimento latente, que de vez em quando retorna. Não importa o período do luto, nem a forma de lidar com ele, no final o que importa de verdade é apenas a ACEITAÇÃO, e isso meus amigos é o que faz toda a diferença na vida dessas crianças.
Da mesma forma que não descobriram ainda a causa do Autismo, também não se sabe a cura , mas uma coisa é fato: existem tratamentos, alternativas que levam o Autista a ter uma vida o mais próximo possível da de um indivíduo típico. Não uso o termo “normal”, porque dá margem a outra tese de pós-doutorado: Quem é normal nos dias de hoje? O fato é que a partir da aceitação a vida das crianças afetadas pelo Autismo e das famílias muda, pois o que para muito é tragédia passa a ser encarado com mais leveza.
Não quero banalizar a síndrome, dizer que é uma moleza viver com uma pessoa afetada pelo Autismo, nada disso, o que quero dizer é que depende da forma como você enfrenta. Muitos se escondem atrás do próprio preconceito, não conseguem se despir e aceitar o filho, entram numa onda de depressão e enquanto isso o tempo vai passando e tempo é algo que no tratamento não se pode perder e esse artigo precioso nos dias de hoje, não me dou o luxo de desperdiçar.
Minha intenção é expressar sentimentos bem simples, apagar os registros das expectativas em relação aos filhos, aceitar que eles podem não ter um futuro brilhante nos padrões da sociedade que dita as receitas de sucesso, mas reconhecer que eles podem ser felizes e felicidade não depende de dinheiro, nem de posição social, pode vir das formas mais simples, e disso, ah posso garantir que os Autistas sabem! Você já viu o sorriso de um Autista? É o mais sincero e espontâneo que conheço. E essa é minha missão: Mostrar a todos que ser Autista pode ser sinônimo de alegrias, que são amorosos e que podem fazer parte da sociedade, mas para isso cada um precisa fazer sua parte, ACEITAR simplesmente, sem demagogia ou falsidade!
Ivna Gadelha Diógenes Vasconcelos
Arquiteta Paisagista
Mãe da Isabella de 5 anos, e do Marcelinho de 3 anos Autista em tratamento
Artigo publicado no Jornal O Dia 24/04/11 Coluna M3 a convite de Clarissa Carvalho

quarta-feira, 6 de abril de 2011


Imaginem que nessa caminhada de quase 2 anos, agora é que ouvi falar em Currículo Funcional Natural, em São Paulo quando visitei a AMA, FADA e Colégio Paulicéia.
Obtive informações preciosas, agora nosso trabalho na Associação Casulo é abordar as escolas em que nossos filhos estudam para tentarmos chegar nessa metodologia...
Pois aí vai um texto interessante sobre o assunto

CURRÍCULO FUNCIONAL NATURAL
Imagine como Reagiria Se:
• As pessoas nunca falassem diretamente consigo mas conversassem sobre si na sua presença;
• As crianças se rissem de si na rua e que os adultos o olhassem e falassem sobre si em voz baixa e nas suas costas;
• As pessoas o levam de braço dado pela rua sem nunca lhe dizerem exatamente aonde vão;
• Não o deixassem ir sozinho a nenhum lugar;
• Os professores só lhe fizessem perguntas do gênero - “Que cor é esta?” ou “Mostra-me o teu nariz” – mesmo quando você já tem mais de 18 anos;
• As suas tentativas de fazer algo acabassem sempre por ser interrompidas por alguém que as faz por si;
• Está doente e ninguém se dá conta disso;
• Ouve constantemente as pessoas a discutirem entre si sobre o que você pode ou não pode fazer;
• Fosse/é um adulto mas que todos se referem a si como se fosse uma criança;
• As pessoas lhe dissessem constantemente o que fazer, sem nunca conversarem sobre isso;
• As pessoas só esperassem de si comportamentos inadequados;
• Não lhe fosse permitido tomar qualquer decisão pessoal;
“Se você fosse tratado assim, como é que reagiria?
Eu, provavelmente, reagiria de uma forma inadequada…”


As perguntas anteriores expressam algumas das limitações que a sociedade impõe a indivíduos com Perturbação do Espectro Autista, principalmente aqueles, que de uma forma recorrente, se manifestam através de comportamentos inaadequados.
Para tentar diminuir estes comportamentos disruptivos de crianças e jovens com PEA foi desenvolvido por Judith LeBlanc o Currículo Funcional Natural (CFN).
Este currículo tem por base uma filosofia centrada no aluno, que assenta na crença de que o potencial de aprendizagem é igual em todos. É constituída por alguns pontos-chave que promovem a auto-estima, a socialização e os afetos tendo sempre em vista a autonomia.
Tem como objetivos promover o desenvolvimento de competências funcionais e reduzir comportamentos inadequados do aluno.
Segundo a autora:
• Os objetivos educacionais devem ser escolhidos para o aluno enfatizando que aquilo que ele vai aprender terá utilidade para a sua vida atual, ou a médio/longo prazo, ou seja, os objetivos devem ser Funcionais.
• Tanto os procedimentos de ensino utilizados como o ambiente de ensino devem de ser o mais semelhante possível ao que pode acontecer nos contextos reais, sendo assim, Naturais.
• Enfatiza o uso dos Reforços Naturais para que desta forma, se verifique uma aprendizagem segundo a ordem natural das coisas ocorrerem no mundo e não de uma forma arbitrária e artificial.
Assim, para que o CFN possa ser implementado na escola é necessário que os professores se centrem nos pontos fortes da criança.

"Antes de se pensar o que se vai ensinar, é preciso pensar para quê se vai ensinar"


É uma forma de ensino baseada nas atividades. A seleção das atividades deve ter em conta:
• A idade do aluno, visto não ser adequado envolver jovens adolescentes em atividades pré-escolares, por exemplo;
• Devem ser variadas para que o aluno aprenda todas as diferentes formas de realizar comportamentos corretos e aceitáveis, pois caso o aluno aprender um comportamento sempre da mesma forma vai ter dificuldade em utilizá-lo em outros ambientes, não ocorrendo o uso da generalização.


“A estratégia é ensinar apesar dos comportamentos inaadequados. É olhar para além dos comportamentos dos alunos e ver as possibilidades que as mesmas tendem a encobrir.”


É assim fundamental que o professor e todos os outros técnicos estabeleçam um plano educativo individual de competências selecionadas para serem ensinadas num determinado período de tempo. Esta metodologia permite uma sistematização diária das competências a ensinar e facilita a planificação das atividades. Ao longo das aprendizagens cada aluno está sujeito a avaliações periódicas feitas a partir de registros quantitativos e qualitativos.
É também destacado o trabalho com as famílias visto ser com esta que o aluno passa a maior parte do seu tempo e também porque é a família quem o conhece melhor.
Conclusão:
Assim, Judith LeBlanc refere que: “ …poderíamos ignorar o comportamento, porém isso permitiria ao aluno perturbar os outros e a sala de aula, poderíamos pô-lo em isolamento, porém isto unicamente o afastaria do ambiente destinado ao ensino. A arrumação dos estímulos de instrução e os procedimentos de ensino procuram ganhar a atenção do aluno e redirigi-lo para atividades desejáveis. Deste modo o inadequado diminui, ou é eliminado totalmente.
Com certeza o melhor efeito colateral ao implementar tais procedimentos é que os alunos começam a desfrutar da aprendizagem e conseguem aprender.”


Referência Bibliográfica:
Apontamentos policopiados do curso "As Pessoas Com PEA um Crescimento Naturalmente
Global", em 13 Janeiro de 2008.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

M A R C E L O


Marcelo é lindo
e não é porque tem olhos azuis ou um jeito doce de ser

Marcelo é lindo porque é muito mais
porque sabe demais sobre coisas nebulosas
e enganos que a gente comete contra si

Marcelo é lindo porque tem menos idade que eu
sabe tudo de música, utopia e solidão
e sempre fica envergonhado se não gosta de alguém

Marcelo é lindo porque tem o nome que tem
tem o cabelo, a boca e o sorriso dos marcelos
um céu por cima, um menino por baixo, um ermitão

Marcelo é daqueles que ninguém conhece
e ninguém sabe disso nem mesmo uma mulher

Marcelo é daqueles que nos deixa sem jeito
de tanto ser o que a gente é

Martha Medeiros

E aí? Gostaram? Não é todo mundo que tem uma poesia de Martha Medeiros não é?